Quatro anos depois, a emissora começou a veicular contundentes críticas à administração. O resultado não foi outro: 1º de fevereiro, chegou uma notificação para a Rádio Moraújo sair do local em 10 dias. A partir daí, começam os absurdos. Primeiro: em 14 de fevereiro, agentes, identificados como da Prefeitura, executaram o despejo, destruindo a torre e tentando jogar os equipamentos da rádio na calçada sem nenhuma ordem judicial. Segundo absurdo: a associação recorreu à Comarca local através de mandado de segurança que foi rapidamente indeferido pelo juiz.
Sem o apoio da administração nem da justiça, a Rádio Moraújo Fm ganhou a adesão da comunidade. Mobilizados os moradores doaram material de construção, os pedreiros dedicaram gratuitamente horas de serviços e, em menos de um mês, uma nova sede estava erguida em terreno próprio com uma nova torre montada. Mas os absurdos continuaram. Vem então o terceiro. Não satisfeito o prefeito Juvêncio Abreu ameaçou mais uma vez. “Ele mandou dizer por um secretário seu que, se a rádio entrar no ar sem alvará de funcionamento a Prefeitura fecha de novo”, afirmou o diretor da emissora, Antônio Montezuma. Quarto absurdo: na Prefeitura, a associação foi informada que, para dar o alvará, era necessário ter uma licença ambiental da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), pois a irradiação poderia prejudicar a saúde dos vizinhos. Quinto absurdo: na Semace, Montezuma recebeu a informação que a perícia para a licença custaria R$ 1.200,00. Sexto absurdo: agora, a Rádio Moraújo Fm está tentando arrecadar verba para pagar essa despesa e saber qual será o próximo absurdo contra o direito constitucional da liberdade de expressão e contra a fajuta lei 9.612 de radiocomunicação comunitária.
Segundo Marcelo Inácio do Movimento Cearense pela Democratização da Comunicação (MCDC), esse caso exemplifica como os interesses partidários e políticos querem controlar as mídias. "No entanto, a resposta da comunidade foi sintomática: sem o apoio do prefeito e da Justiça, a rádio ganhou o engajamento da população. Quando derrubaram a torre e fizeram o despejo, deram condições de construir uma emissora engajada com os movimentos populares", avalia ele.
* Ismar Capistrano C. Filho é jornalista profissional e professor universitário