Para liberar a fusão de Oi e Brasil Telecom, seria necessário mudar o Plano Geral de Outorgas, permitindo que um mesmo grupo controle duas concessionárias. A diferença entre um modelo com duas empresas e um com três é significativa, porque a BrOi teria uma área de atuação muito ampla, sendo a responsável pelo atendimento de quase 78% da população.
Ainda que o mercado não esteja se concentrando diretamente por meio dessa fusão, já que as duas não concorrem, elas passam a ter uma responsabilidade muito maior e, em caso de problemas, o impacto será muito mais significativo.
Acontece que o novo modelo só será isonômico (ou seja, não-casuístico) se permitir também que outras concessionárias se consolidem. E se a Telefônica e a Embratel resolverem se consolidar, em cenário hipotético? Qual será o argumento do governo para não permitir? E o mercado de telefonia celular, que hoje também é dividido pela regra de que um mesmo grupo não controla duas ou mais operações em uma mesma área? Se mudou o PGO, por que não mudar as regras da telefonia celular? Será difícil encontrar explicação para essas situações. Não por acaso, Telefônica e Embratel estão caladas. Será que esperam alguma benesse também?
Mas o mais grave é o argumento de que se está criando uma grande empresa nacional, que servirá de contrapeso aos dois gigantes internacionais que atuam no Brasil: Telefônica e Telmex/América Móvil. A garantia de que a BrOi será nacional será um mero acordo de acionistas. O BNDES e os fundos de pensão das estatais, em tese, são os garantidores dos interesses nacionais. Mas acordo de acionistas muda-se a qualquer hora, basta que os acionistas o queiram. E pior, cabe aos fundos e ao BNDES financiarem a operação e os acionistas, em uma engenharia maluca em que o negócio só será bom para o BNDES se a megatele der certo. E quem garante?
Sem diminuir a relevância dos problemas e vontades dos sócios controladores, a questão principal que se coloca é: qual o interesse público atendido com a incorporação da Brasil Telecom pela Oi? Não há ameaça imediata causada por espanhóis e mexicanos. Os resultados de balanço de Oi e BrT são muito bons. Por que a pressa?
Um fato é inegável: passados dez anos, o modelo do ministro Sérgio Motta, que promoveu um fantástico desenvolvimento das telecomunicações, começa a implodir. Baseado no binômio competição/universalização da telefonia convencional, o projeto não é mais adequado ao mundo da tecnologia IP e da convergência. O modelo de negócios da telefonia baseado na tarifação diretamente proporcional ao tempo de uso e à distância da ligação está morrendo. O que se vende hoje é banda. A disputa é pelo acesso em banda larga tanto por fio quanto sem fio (wireless). E mais: há uma crescente interpenetração dos serviços fixos e móveis. Deixaram de existir áreas estanques como fixo, móvel ou longa distância, sobre as quais se fundamenta toda a regulamentação atual. É preciso rediscutir o modelo, como já o fizeram vários países. Não será a mera fusão ou incorporação BrOi que resolverá questões básicas. A discussão tem que ser pública e no interesse público.
* RUBENS GLASBERG, 64, é jornalista da revista especializada em telecomunicações "Teletime".