Rio – O cinema brasileiro tem público, mas falta espaço para exibir os trabalhos. Essa foi a conclusão a que chegaram grandes nomes do cinema brasileiro durante debate de encerramento do I Festival de Curtas de Cabo Frio, que aconteceu na cidade de 10 a 16 de setembro.
Um dos temas debatidos foi a polêmica nacional acerca do filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha. Segundo o roteirista José Louzeiro, homenageado na mostra, o filme vai retratar nada menos do que a realidade. 'Ele ainda nem chegou ao cinema e já tem gente com pau na mão para dar na cabeça do diretor. O filme conta o que o BOPE, esse batalhão de Nazistas, faz todos os dias nas comunidades da cidade'.
Para Louzeiro, Tropa de Elite encontrará dificuldade para ser exibido por muito tempo nas salas do Brasil, dominadas em sua opinião por filmes norte-americanos. 'Esse filme está chegando em alguns cinemas, e aposto que ele não passe disso, porque os donos das salas vão sofrer pressão para que ele não passe durante muito tempo'.
Por isso, Louzeiro conserva uma opinião tão polêmica quanto o filme: 'Os camelos estão prestando um papel cultural muito grande ao cinema', avalia, levando em consideração que com a pirataria o acesso ao filme será maior do que nas salas do país. 'Nosso cinema é nossa grande realidade. Ele garante histórias para sempre, histórias que não vão acabar nunca', completa.
Falta de espaço desagrada aos demais cineastas
A opinião foi unânime. Cineastas que estiveram em Cabo Frio reclamaram da dificuldade de exibição de seus trabalhos. É o caso de Jurandir Oliveira, que filmou 'Quinze', adaptação do romance de Raquel de Queiroz. 'Sofri bastante para conseguir mostrar o filme. As paredes são altas e as portas atravancadas. As salas de cinema no Brasil são proibitivas', denuncia.
Segundo ele, os próprios exibidores fazem campanha contra o cinema nacional. 'Já tem até quem diga 'olha é filme nacional você quer ver assim mesmo?`. Aconteceu com meu filho. Entao é pensar bem antes de gastar o dinheiro. Isso émuito triste', reclama.
O cineasta também criticou o que chamou de 'cinema de resultado guiado pela TV'. 'Os americanos têm 85% da exibição das salas no Brasil. E 15% a TV Globo acha que deve ser só para ela, e não para todos, porque ela já tem seu produtos feitos dentro do modelo de TV. Ela acha que a sociedade deve ver televisçao na tela do cinema'.
José Louzeiro afirmou ainda que o padrão novela é uma coisa, e o cinema é completamente diferente. 'A novela a cada dia está eliminando o plano mais fundamental no cinema que é o plano geral. Quanto mais geral o plano, menor a emoção. Mas no cinema é um dos grandes planos. Então hoje só se faz um cinema para a televisão'.
O cineasta Cláudio Assis, autor de 'Amarelo Manga' e 'Baixio das Bestas', assinou embaixo quando o assunto foi a falta de espaço. Mas para ele o público quer ver o cinema brasileiro. 'Esse negócio de que o cinema nacional não têm público é balela. Não tem é espaço. Colocamos 'Amarelo Manga' a 1 real em 9 dias e 13 mil pessoas assistiram.
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