Esta tem tudo para ser mais uma semana de capítulos decisivos na longa novela de reestruturação do setor de telefonia brasileiro. Está marcado para amanhã o leilão de compra das ações preferenciais (PN, sem voto) da Tele Norte Leste Participações (TNLP) e da Telemar Norte Leste (TMAR). Isso, é claro, se não houver nenhum revés nessa história, hipótese longe de ser descartada. Inclusive porque há um descompasso entre as regras do leilão no Brasil e nos EUA. Aqui, o investidor terá 15 minutos para decidir se vende as ações caso haja mudança de preços.
Já pela Securities and Exchange Comission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), se o preço for alterado, o estrangeiro precisa ter dez dias para se decidir. Se a divergência não se resolver, o leilão nem acontece.
Caso tudo dê certo e o leilão aconteça, o entrave seguinte é o preço. Os controladores oferecem R$ 35,09 por açãoPN da Telemar Participações (a TNLP) e R$ 52,39 para cada PN da Telemar (a TMAR). No entanto, os papéis estão valendo bem mais no mercado, o que reduz o interesse dos investidores. Na sexta-feira, a TMAR fechou a R$ 58,40 e a TNLP a R$ 39,01.
Apesar de a empresa ter a prerrogativa de aumentar os valores, os analistas acreditam que a operação ficará cara demais se ela aceitar pagar o que os investidores aceitariam. Roger Oey, analista do Banif Investment Banking, acredita que é razoável supor que, no caso da Telemar Participações, os minoritários estariam dispostos avender a partir de R$ 45. Se a empresa conseguir comprar todas as PNs a R$ 45, gastará cerca de R$ 17 bilhões, enquanto que na oferta original, de R$ 35,09, o desembolso seria de R$ 13,400 bilhões. 'A Telemar assumiria uma dívida R$ 4 bilhões maior, algo bastante salgado, que deve inviabilizara operação', acredita Oey.
Novos passos da Brasil Telecom
Não é apenas na Telemar que os investidores estão assistindo mudanças importantes nas últimas semanas. No caso da Brasil Telecom (BrT), no fim da semana passada, os fundos de pensão e o Citigroup acertarama compra da participação da Telecom Itália, por US$ 515 milhões.
Para Oey, faz todo sentido cogitar que este é mais um passo para uma futura fusão entre BrT e a Telemar. 'Todo esse processo de mudança nas duas companhias desemboca em um único objetivo, a fusão delas', diz o analista. É interessante lembrar que, além da compra da parte da Telecom Itália, que é um sinal importante de que a briga entre os sócios da BrT pode estar próxima do fim, há a expectativa também de que a BrT fará uma reestruturação societária, trocando PNs por ONs para listar a empresa no Novo Mercado. Tudo isso para estar com a casa arrumada para juntar os trapos com a Telemar. Com tantos personagens e acontecimentos nessa grande novela chamada telefonia brasileira, a dúvida do investidor é o que fazer. Para Oey, o setor caminha para um futuro promissor. No entanto, será preciso sangue-friopara agüentar grandes volatilidades no curto prazo. Entre os papéis das duas gigantes de telefonia fixa, Oey recomenda a compra das ações da Telemar, uma vez que elas subiram bem menos que as da BrT.
Valor Econômico
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