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Fim da TV analógica fica mais distante

Mais do que flexibilizar o desligamento dos sinais de TV analógica, o novo plano do governo para extinguir a transmissão no antigo sistema não terá mais prazo para ser concluído. O Valorteve acesso ao novo cronograma de transição tecnológica que está sendo elaborado pelo Ministério das Comunicações. Por esse trabalho, a última transmissão analógica poderá ocorrer após 2020. O secretário de Comunicação Eletrônica do ministério, Genildo Lins, reconhece que os prazos definidos ainda no governo Lula não eram viáveis. A ideia agora é não cair no mesmo erro ao estabelecer uma data para conclusão de todo processo.

“A partir de agora abre-se mão de um cronograma com data final. Não dá para pensar que o Brasil tem a mesma realidade em todas as cidades”, afirmou Genildo Lins. Segundo ele, falta acertar os últimos detalhes do plano de desligamento dos canais analógicos com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para apresentar à presidente Dilma Rousseff.

Lins explicou que em países do tamanho do Brasil as transições de sistemas são geralmente mais complicadas. “Temos que lembrar que os EUA ainda não desligaram [o sistema analógico]. Eles não dizem isso, mas lá existe transmissão analógica de baixa potência até hoje. E ainda tem os radiodifusores que quiseram permanecer com o analógico”, disse. Ele ressaltou que o setor de radiodifusão americano é menor que o brasileiro. Enquanto a maior parte da população americana prefere a TV a cabo, no Brasil, a TV aberta está em 98% dos lares.

Assistência técnica

De acordo com o estudo do Ministério das Comunicações, o desligamento do sinal analógico ocorrerá em caráter experimental em 2013, nas duas cidades escolhidas para testes. Parte da população dessas localidades deve ter renda suficiente para ter acesso ao aparelho televisor com receptor digital integrado ou ao conversor de sinal digital para as antigas TVs analógicas.

Durante a Copa do Mundo, em 2014, será evitado o desligamento do sinal, para não haver problemas durante as transmissões do evento. Na ocasião, serão amadurecidas as primeiras experiências relativas à migração tecnológica. Mas, já está praticamente acertado que o sinal analógico de São Paulo será desligado em 2015. Pela complexidade técnica, a capital paulista exigirá mais atenção dos técnicos envolvidos com a execução do plano. Finalmente em 2016, prazo previsto anteriormente para o “apagão analógico” em todo o país, a chave do antigo sistema será virada somente num grupo de 800 a 1.000 municípios.

Para o governo, embora a migração tecnológica não seja completa em 2016, as cidades escolhidas para receber o sinal digital reúnem 70% da população, incluídas as capitais dos Estados e as maiores cidades do interior. Os números serão usados para mostrar que não haverá frustração com a decisão de adiar, por tempo indefinido, o fim das transmissões analógicas.

Em 2017, no entanto, restarão 4,5 mil municípios sem concluir a migração de sistema. São cidades que representam 30% da população e que não terão uma data limite para concluir a migração para a nova tecnologia de TV aberta.

Lins afirmou que está praticamente definido que Santa Cruz do Sul (RS) será uma das cidades escolhidas para ter o sistema analógico desligado em 2013. Mas ainda falta consultar o governo local. O secretário disse que o poder aquisitivo [mais elevado] da população tende a diminuir a necessidade da política de massificação de conversores de sinal digital para TV analógica. Além disso, as transmissões de TV partem praticamente do mesmo lugar. “São variáveis que precisamos definir para fazer o teste, porque se não der certo, religaremos o sinal analógico”, afirmou.

Santa Cruz do Sul é o município de menor porte que entrará na fase de experiência do desligamento do sinal analógico. O outro, com 200 mil a 300 mil habitantes, ainda não foi definido pelos técnicos do ministério. “Nessa etapa, vamos saber exatamente quais são as necessidades e as linhas de ação que precisaremos tomar em cada um dos casos de desligamento no país”, afirmou o secretário.

Deverá ser feito também um levantamento prévio para avaliar como será oferecida a assistência técnica para as pessoas com dificuldade de ligar as antenas. Será avaliado se haverá necessidade de se montar uma estrutura de atendimento (call center) ou distribuir os conversores de sinal para a população de baixa renda.

Transição acelerada

Concluídos os testes, será desligada a chave do sistema analógico na cidade de São Paulo. A região é caracterizada pelo alto nível de congestionamento de sinal provocado, basicamente, pelo número de emissoras transmitindo canais simultaneamente e pela intensa concentração urbana marcada por edifícios que atrapalham a propagação dos sinais. Não foi à toa que o local foi escolhido para colocar à prova o sistema japonês, escolhido pelo governo brasileiro e adaptado posteriormente com tecnologia desenvolvida no país.

Dificuldades como essas poderão levar o Ministério das Comunicações a propor mudança no decreto da TV digital (5.820/2006). “Vamos permitir a digitalização no próprio canal. Hoje, existe a obrigatoriedade de transmitir o sinal analógico e digital em dois canais distintos, mas em São Paulo, por exemplo, não têm canal para todo mundo. Por isso, vamos tirar essa obrigatoriedade”, disse Lins. Há 13 estações de TV que vão se digitalizar no próprio canal. “Elas vão funcionar no analógico até, no máximo, março de 2015”, afirmou.

Embora as emissoras não tenham que gastar dobrado para manter simultaneamente dois sistemas, o secretário considera que elas deverão acelerar a transição para não perder audiência. “Quem fizer a digitalização agora ganhará no futuro, porque quem está em casa com o controle na mão não para no canal analógico, por mais que a programação seja boa”, disse Lins. Uma geradora de programação de São Paulo teria lhe informado que gasta R$ 1,5 milhão por mês com o consumo de energia para manter a produção analógica, fora o gasto com equipamentos e pessoal, tudo em duplicidade.

Migração abre caminho para teles

As operadoras de telefonia celular estão tão preocupadas quanto os radiodifusores com as decisões do governo em relação à implantação da TV digital. Esse serviço pode abrir uma oportunidade para que as teles ampliem seus negócios nas próximas décadas. Por isso, as companhias telefônicas veem o fim da transmissão do sinal analógico da TV aberta [conhecida no setor como o “dividendo digital”] como uma possibilidade para comprar novas licenças da quarta geração de celular (4G). O governo pretende licitar essas outorgas no segundo semestre de 2013. Vale lembrar, que ocupa a TV aberta ocupa a faixa de 700 megahertz (MHz).

O secretário Genildo Lins, do Ministério das Comunicações, ressaltou que a prioridade do órgão com o plano de desligamento dos canais analógicos é garantir à população uma TV digital com mais qualidade e capacidade de incorporar inovações, como os recursos da multiprogramação, interatividade ou imagens em três dimensões. “O foco do plano de desligamento não é liberar faixa, mas concluir o processo que vai completar dez anos. O governo previu que isso seria feito em sete anos, mas não temos condições físicas e econômicas”, disse Lins.

O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, disse que o governo ainda não apresentou o texto final do plano de apagão analógico à entidade. Enquanto isso, a Abert trabalha em outro plano. “Vamos entregar ao governo um estudo com a proposta de ocupação desse espaço. Aí poderemos discutir o que será feito na faixa de 700 MHz com o desligamento do analógico”, disse.

Segundo Slaviero, será liberada uma banda hoje ocupada por 18 canais analógicos da TV aberta (entre os canais 52 e 69). O estudo prevê contrapartidas ao setor de radiodifusão, que pode incluir medidas para massificação do acesso aos conversores de sinal e garantias para que não haja interferências no sinal digital.

Governo atrela desligamento de sinal a leilão 4G

O governo federal já deu as primeiras sinalizações de quais serão as condições apresentadas no próximo leilão dos serviços de quarta geração de celular (4G). Esse padrão vai utilizar o espaço na faixa de 700 megahertz (MHz) que as TV abertas deixarão ao migrar para o sistema digital. A licitação está prevista para ocorrer até o fim de 2013.

Segundo o secretário Maximiliano Martinhão, do Ministério das Comunicações, o plano de desligamento do sinal deverá ser parcialmente adaptado aos estudos que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) planeja concluir até o fim do ano para o leilão de 4G. As expectativas são que ocorram poucas mudanças. Na opinião do secretário, o grupo de cidades que fará a migração tecnológica do sinal de TV em 2016 – de 800 a 1.000 municípios – também é alvo de interesse das companhias celulares. Segundo dados da Anatel, 1.062 cidades precisarão desligar o sinal analógico da TV aberta para viabilizar a oferta de serviços 4G.

É nessas localidades que o espectro está congestionado, disse o secretário. Existem ainda outros dois grupos de cidades em situações diferentes que podem ter solução rápida para iniciar a operação de 4G.

Um desses grupos é formado por cidades onde a faixa de 700 MHz já está disponível para fazer banda larga móvel, por não estar em uso por TV alguma. “Se pegar o interior do Brasil, o espectro está com muita disponibilidade”, afirmou Martinhão.

Há ainda o último grupo de municípios, que poderá interessar às operadoras de telefonia celular logo após o leilão. Nesse caso, bastaria haver uma negociação com as redes de TV para realocar o sinal para outro espaço disponível. A operadora de telefonia ficaria responsável por arcar com os custos da eventual troca de equipamentos.

A substituição de equipamentos das empresas de radiodifusão é, inclusive, uma das alternativas cogitadas pelo governo para acelerar e concluir migração da TV analógica para a digital. Essa solução substituiria a proposta de criar um novo fundo setorial para financiar a digitalização das TVs, como ocorreu nos Estados Unidos.

A proposta é vista com desconfiança já que existe o risco de contingenciamento de recursos pelo Tesouro Nacional, como já ocorre com outros fundos. O próprio ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, tem insistido que o Brasil deve atribuir obrigações às empresas no leilão, em vez de elevar os preços das outorgas.

Governo quer promover o apagão da TV analógica em mais de mil cidades até 2016 para liberar a faixa

O anúncio de ontem do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de que pretende realizar o leilão de venda das frequências de 700 MHz no segundo semestre de 2013, está aliado à estratégia já aprovada pelo governo de "limpar" esta faixa, ocupada pelos sinais de TV analógica, nas grandes cidades até 2016. Ao mesmo tempo, o novo planejamento da TV digital, se por um lado acelera o apagão analógico nos grandes centros, também adia para depois de 2020, nas pequenas cidades, o desligamento dos sinais de TV analógica.

Conforme a apresentação de Flavio Lenz, assessor da Secretaria de Telecomunicações do MiniCom, no evento da SET em São Paulo, já há consenso no governo da necessidade de limpeza rápida da faixa de 700 MHz, que passará a ser ocupada pela banda larga móvel, nos grandes centros urbanos. Serão exatas 1,062 mil cidades onde as TVs analógicas precisarão ser "desligadas" passando a transmitir apenas os sinais digitais, para dar espaço para a banda larga.

Estas cidades congregam 118 milhões de brasileiros, e 5,5 milhões de famílias integrantes do programa social Bolsa Família, conforme estudo do Ministério das Comunicações.

Para os demais 4,5 mil municípios brasileiros, onde o custo da implantação da TV digital é pelo menos três vezes maior, o prazo para o desligamento da TV analógica será muito mais diluído no tempo, podendo ultrapassar o ano de 2020. E a banda larga 4G não vai chegar neste municípios? O ministério não vê problemas, porque nestas cidades, os canais 52 a 69, que ficam justamente na faixa de 700 MHz não estão ocupados pelas TVs, podendo, então, ser usados para a banda larga celular.
Mudanças

O esforço para digitalizar os sinais da TV, mesmo com a decisão de só cumprir o cronograma elaborado durante o governo Lula nos principais centros urbanos, é ainda muito grande. Segundo as projeções de Lenz, que confirmam a antecipação do processo para 2015, quando se começará a fazer o teste-piloto em algumas cidades brasileiras, terão que ser trocados quase cinco mil transmissores de TV nessas grandes cidades.

A experiência do Japão, que teve julho do ano passado como a data final para o switch off analógico da TV foi analisada pelo MiniCom juntamente com as dos mercados norte-americano, coreano, francês, espanhol e português. No Japão, por exemplo, foram encontrados problemas com as áreas de sombra das cidades e ficou comprovado que, para chegar ao último 1% de digitalização é muito mais caro do que toda a fase de instalação inicial. Além disso, no Japão foi montado um forte esquema de auxílio à população para apoiar a migração, com o uso de call centers e equipes indo de casa em casa.

No Brasil, a ideia de se diluir no tempo o switch off da TV analógica está calcada no fato de que a maiora das retransmissoras das pequenas cidades é bancada pelas prefeituras, que não têm rubricas para fazer esta troca. E por isto, justifica o governo, depois deste grande impulso inicial nos quatro anos, a troca de outros quase 7 mil transmissores seria feita de maneira mais lenta e mais palatável para os orçamentos.

Radiodifuosores

Os radiodifusores ainda estão fazendo os estudos encomendado pelo MiniCom sobre os problemas que poderiam ocorrer com esta mudança. Mas tratam também de acelerar a digitalização. As Organizações Globo, por exemplo, pretendem chegar em 2013 com 70% de sua rede digitalizada. Os 30% restantes é que são o grande problema, informam representantes da empresa.

 

Governo pode impor às teles investimento em TV digital

O governo federal ensaia um movimento para acelerar a migração da transição do sistema de televisão analógico para o digital. A estratégia prevê que as operadoras de serviços móveis assumam a responsabilidade de levar o sistema digital de TV para os municípios ainda não atendidos com essa tecnologia. A obrigação, entretanto, ficaria restrita às localidades onde as prefeituras implantaram os equipamentos analógicos no passado, mas não têm recursos para modernizá-los. A dificuldade é identificada principalmente nas retransmissoras das pequenas cidades, que cobram ajuda financeira do governo.

As teles não teriam nenhuma participação no novo serviço digital, nem seriam remuneradas por isso. A ideia do governo é impor essa obrigação para aquelas que quiserem comprar frequências de 700 MHz no próximo leilão de sobras de quarta geração (4G). A contrapartida para as teles pode ser uma redução nos preços das licenças de 4G. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, revelou os planos com exclusividade ao Valor.

Se tudo corresse conforme foi previsto no cronograma da digitalização, as geradoras e retransmissoras da TV aberta teriam os equipamentos atualizados até 2016. As emissoras devolveriam, nesse mesmo prazo, a radiofrequência de 700 MHz que usam atualmente. Então, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) levará essas faixas para o leilão de 4G. E é justamente a disputa pelo controle dessa faixa que tem pautado a briga entre os dois segmentos. Enquanto as emissoras de TV vislumbram a oportunidade de criar novas fontes de receita com o uso comercial desse espectro, as prestadoras de celular enxergam uma oportunidade histórica para se consolidarem no mercado, obtendo mais capacidade de rede para oferta de serviços de 4G.

Ainda sem ter certeza sobre a dimensão que poderá tomar o duelo entre os radiodifusores e as teles, e temendo que o apagão da transmissão analógica ultrapasse 2016, o governo planeja esse arranjo regulatório.

Inicialmente, a licitação estava programada para ocorrer somente após a conclusão do processo de digitalização do sistema em 2016. Porém, ao confirmar na semana passada que o leilão poderá ocorrer em 2013, o ministro surpreendeu o setor porque a Anatel sequer concluiu os estudos sobre a destinação da faixa de 700 MHz para o setor de telefonia celular. "Não tomamos formalmente a decisão porque acho razoável discutir antes com o setor", disse.

A sinalização do ministro deixou nítida, finalmente, qual deve ser a estratégia do governo com a antecipação do leilão da faixa de 700 MHz para 2013. Essa decisão é justificada pela existência de milhares de retransmissoras de TV irregulares e sob a responsabilidade de prefeituras. Se, por um lado, a legislação atual não permite que os municípios destinem recursos para a compra de novos equipamentos da TV digital, por outro, os donos das emissoras não têm interesse de desembolsar recursos para digitalizar os equipamentos nessas cidades.

Bernardo explicou que muitas prefeituras, na década de 80, instalaram retransmissoras de TV para garantir a transmissão nas cidades onde os empresários do setor não tinham interesse econômico. "Em 1982, a prefeitura assinava um cheque e autorizava a compra. Hoje, não sabemos se é possível, inclusive por licitação, fazer a compra do equipamento digital", disse.

O ministro ressaltou que a decisão de impor o custo da digitalização do sistema de TV no leilão de 4G ainda não foi tomada. "Não quero anunciar [o estudo] porque ainda não está pronto", ponderou. Ele ressaltou que estratégias como essa já foram adotadas por outros países. "Nos Estados dos Unidos, fizeram uma licitação das licenças na faixa de 700 MHz e uma parte dos recursos foi usada para digitalizar a televisão e desocupar os canais", disse.

Nos cálculos do ministério, uma estação de retransmissão de sinal pode custar de R$ 125 mil a R$ 2,5 milhões. São registradas, atualmente, 12 mil retransmissoras no país, entre retransmissoras legais e irregulares que não foram digitalizadas. Até o lançamento da licitação, deve restar ainda um saldo de 10 mil retransmissoras analógicas.

Embora cite o exemplo dos EUA, Bernardo afirmou que o Brasil caminha para a adoção de um modelo de uso das faixas de radiofrequências semelhante ao alemão, que fez uma mescla entre o uso das faixas de 2,5 gigahertz (GHz) e 700 MHz para oferecer serviços 4G. "Fizemos o [leilão de] 2,5 GHz que vai suprir perfeitamente as regiões metropolitanas. Mas quando você pega as cidades com mais de 100 mil habitantes, em que a população está mais espalhada, a faixa de 700 MHz é mais vantajosa", afirmou Bernardo ao se referir à vantagem técnica propiciada às operadoras de celular, que poderão ter maior cobertura com menor número de antenas. Embora haja o ônus de custear uma obrigação do setor de radiodifusão, há expectativa de que as prestadoras fiquem satisfeitas com a compra antecipada de licenças 4G em leilão realizado já no próximo ano.

 

Ministério das Comunicações cria Conselho Consultivo do Rádio Digital

O Ministério das Comunicações quer acelerar a migração do rádio analógico para o digital. Para isso, acaba de criar o Conselho Consultivo do Rádio Digital, que vai assessorar na implantação do sistema de rádio digital no Brasil. Uma portaria, publicada semana passada no Diário Oficial da União estabelece que o conselho contará com representantes do Governo Federal, do Poder Legislativo, do setor de radiodifusão e da indústria. Os nomes indicados pelos órgãos e entidades deverão ser encaminhados ao MiniCom no prazo de 30 dias.

O primeiro presidente do Conselho será o secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica, Genildo Lins, e o vice-presidente, o diretor do Departamento de Acompanhamento e Avaliação da secretaria, Octavio Pieranti. A previsão é de que a primeira reunião do órgão que tem a missão de ajudar na implantação do sistema de rádio digital no Brasil ocorra até o início de outubro.

Segundo Pieranti, a atuação do conselho irá além da definição do padrão de rádio digital. O trabalho envolverá questões referentes a financiamento da transição do sistema, parâmetros internacionais e questões técnicas. Durante seu funcionamento, o conselho vai realizar debates sobre todos esses temas e eventuais recomendações ao ministério terão de ser aprovadas pela maioria absoluta de seus membros.

A criação do conselho consultivo dá início à fase em que o ministério começará a ouvir a sociedade a respeito do sistema de rádio digital que será adotado pelo Brasil. Em 2011, o MiniCom publicou uma convocação para que diferentes sistemas de rádio digital fossem testados no país. Dois sistemas se candidataram: o Iboc (norte-americano) e o DRM (europeu).

O ministério, em conjunto com o Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), testou os padrões em diversas situações, com emissoras de várias classes e potências, em diferentes cidades do Brasil. Agora, o MiniCom aguarda os relatórios técnicos finais sobre o resultado dos testes, que deverão ser encaminhados pelo Inmetro até outubro.

“O maior desafio na escolha do sistema de rádio digital é traçar parâmetros que sejam razoáveis para todas as emissoras de rádio do Brasil, que têm realidades e condições muito diferentes. A gente tem de ter muita cautela para promover uma transição e não deixar que as emissoras fiquem fora do ar nem que o brasileiro deixe de ouvir rádio”, aponta Pieranti. Ele ressalta que, por enquanto, o ministério trabalha com a possibilidade de não desligar o rádio analógico, mesmo após a definição do padrão digital, como já ocorreu em outros países.

Torre de TV digital em Brasília favorece emissoras privadas

Com a inauguração da Torre de TV Digital em abril, o governo do Distrito Federal deu um passo inédito no processo de digitalização da televisão no país ao criar uma estrutura física pública para atender às emissoras locais. Tanto que, quando o governo assumiu a construção da torre que receberia a antena, a Associação dos Veículos de Comunicação do Distrito Federal (Avec) não aderiu o projeto imediatamente, porque os empresários não entendiam o papel do governo na gestão do equipamento.

O projeto de agregar todas as emissoras geradoras abertas numa só antena de transmissão poderia ser um instrumento importante para tratar todos os concessionários de forma isonômica. Para Jonas Valente, secretário geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF, a torre ainda deve ser um caminho para que as emissoras do campo público possam se organizar em torno do modelo.

“Um governo deve dar prioridade às causas que são públicas. Por esse motivo, defendemos a criação de um Operador de Rede para a Torre Digital que viabilize a transmissão de canais públicos de TV, tais como canais educativos, universitários, comunitários, culturais, legislativos etc. que não possuam recursos suficientes para implantar uma infraestrutura própria de transmissão”, pontua Valente.

A estrutura foi encomendada ainda no governo de José Roberto Arruda (ex-DEM) em 2008, e a construção, iniciada em junho de 2009, consumiu três anos. O orçamento inicial era de R$ 61 milhões, mas logo houve um aditivo, passando a R$ 68 milhões, porque foram necessárias algumas adaptações do projeto original realizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. “A estrutura não sustentava a antena, que pesa cerca de 15 toneladas”, explica o engenheiro Renato Castelo, assessor da Diretoria de Prospecção e Formatação de Novos Empreendimentos da Terracap. Encerrada a obra, que foi inaugurada pelo governador Agnelo Queiroz (PT) no último dia 21 de abril, o custo total chegou a R$ 89 milhões.

Na primeira etapa de ocupação da torre, vão ser priorizadas as emissoras geradoras filiadas à Avec, que devem cotizar para a compra da antena ainda a ser instalada, com custo estimado em US$ 2 milhões (cerca de R$ 4 milhões). No entanto, no DF, são 22 canais que demandam a transição para o sinal digital, apesar de nenhuma outra emissora, além das seis já incluídas, ter manifestado interesse de transmitir a partir da nova antena. Aquelas que já passaram pela digitalização utilizam antenas provisórias, com baixa potência, se comparada à da nova estrutura.

Além de alocar a antena, a Avec vai utilizar estúdios e outros espaços a partir de contrato de longo prazo que deve ser firmado com o Governo do DF. Por ser proprietária, a Avec também vai ser a gestora da antena, com o poder de selecionar as emissoras que terão direito de transmitir o sinal a partir da torre, o que também é alvo de críticas.

“A Torre de TV Digital significou um investimento público de quase R$ 90 milhões para as emissoras comerciais, sem, até agora, qualquer contrapartida. Por isso, a torre precisa garantir a migração das emissoras das emissoras do campo público para a tecnologia digital no DF, inclusive com o financiamento para a criação de uma TV pública distrital. Isso pode acontecer a partir da abertura de espaço na estrutura construída ou por meio do financiamento dos custos de transição dessas emissoras com base no aluguel da área que será ocupada pelas televisões comerciais”, indica Jonas Valente.

Estrutura e manutenção

No último dia 29 de maio, o engenheiro Renato Castelo, representando a Terracap, recebeu representantes do Governo Distrital e da sociedade civil para apresentar as instalações e o funcionamento da “Flor do Cerrado”, como foi batizada a nova torre. A companhia imobiliária do Distrito Federal é a responsável pela construção e, em conjunto com a Secretaria de Turismo, pela gestão da Torre de TV Digital.

De acordo com o engenheiro, pelo menos seis emissoras já têm espaço certo, tanto para a transmissão do sinal digital quanto para montar um estúdio na área externa da torre – Globo, Record, Bandeirantes, SBT, Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e TV Brasília, que é afiliada da Rede TV. A TV Senado e a TV Câmara, que já ocupam um terreno cedido pela Terracap, instalaram antenas de transmissão digital numa área próxima à torre, mas com estrutura bem mais modesta. Com a demanda restrita a essas seis emissoras, no primeiro momento, duas das oito salas construídas para as emissoras no entorno do monumento vão ficar vagas.

No subsolo, há ainda um salão de 900 m², que pode vir a ser ocupado pelas emissoras médias e pequenas. “Cabem todas, porque elas não têm uma estrutura muito grande”, avalia Renato Castelo. A Torre tem 185 metros de altura, com uma área construída de aproximadamente 30 mil m². Considerando os seis boxes de recepção dos visitantes, os oito estúdios e o estacionamento com 800 vagas, a torre ocupa um terreno total de 48 mil m². Segundo o engenheiro da Terracap, por enquanto não existe projeto para expansão da área construída.

O custeio da "Flor do Cerrado" inclui desde a manutenção de quatro geradores de energia, que dão autonomia ao transmissor, ao sistema de ar-condicionado e a 36 holofotes de iluminação, até demandas como esgotamento sanitário próprio, sistemas de vigilância e segurança e serviços de limpeza e conservação. Esses e outros itens ainda vão ser custeados com a contribuição das emissoras usuárias, em contratos que ainda estão tendo o formato jurídico e a remuneração mensal negociados entre a Terracap e a Associação de Veículos de Comunicação do Distrito Federal (Avec).

Desde o último dia 31 de maio, o Observatório tentou falar por três vezes com Flávio Lara Resende, presidente da Avec, mas, até o fechamento da matéria, a assessoria respondeu que ele não tinha tempo na agenda para conceder entrevista.