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Vice-ministro japonês visita América do Sul para promover padrão ISDB

O vice-ministro de Comunicações e Assuntos Interiores do Japão, Akira Terasaki, oferece em Brasília, na próxima quarta-feira (1/10), almoço a autoridades brasileiras, embaixadores de países próximos e jornalistas para apresentar a política daquele país de TV digital para a América do Sul, nos moldes do que foi implantado no Brasil. A Argentina já está conversando com o governo japonês para a possível implantação do padrão ISDB-T. Chile, Peru e Equador também estão prestes a escolher o padrão de TV digital que vão adotar. Há ainda a expectativa que avancem as negociações para a instalação de uma fábrica de semicondutores japonesa no Brasil.

No dia 9 deste mês, a presidente argentina, Cristina Kirchner, assinou declaração conjunta, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, sobre o interesse em adotar o padrão já escolhido pelo governo brasileiro. E o Brasil está ajudando nas negociações da Argentina com o Japão, no intuito de assegurar que sejam oferecidas as mesmas condições ao país vizinho. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, não descartou a possibilidade de o Brasil emprestar dinheiro, via BNDES, à Argentina para a implantaçlo do padrão de TV digital japonês, com todos os avanços obtidos aqui, inclusive o middleware Ginga, que assegura total interatividade ao sistema.

Segundo o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, uma delegação argentina irá ao Japão ainda em outubro, para definir quando será assinado o acordo para adoção do que ele chama padrão nipobrasileiro de TV digital. Ele informou que o principal entrave, que era a resistência dos radiodifusores argentinos, parece que já foi sanado. "O Clarín, o jornal mais importante da Argentina, publicou, semana passada, uma matéria admitindo a adoção do padrão ISDB-T", contou.

Sobre a instalação de uma fábrica de semicondutores japonesa, que foi acertada quando o país decidiu adotar o padrão japonês de TV digital, Barbosa disse que o assunto vem sendo discutido e avança lentamente. Isto porque o Brasil ainda precisa reforçar o quadro de mestre e doutores, que é um processo demorado. "A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) já recebeu os recursos destinados a enviar pessoal para capacitação no Japão e a Toshiba está conversando com o Ceitec, única empresa de semicondutores da América latina, para implantação de modelos de design house", disse Barbosa, destacando que, se concretizada, será a primeira design house da fábrica fora do Japão.

Interatividade segue sem data certa para estrear

Após quase dez meses de sua implementação, o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) ainda não emplacou. Telespectadores que residem em três capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) podem captar som e imagem digitais em seus televisores, desde que tenham o aparelho que faz a conversão do sinal. Mas, na visão de Luiz Maluf – diretor da Sun na América Latina -, de Nelson Wortsman – diretor da Brasscom -, e outros representantes do setor acreditam que só a interatividade dará força ao sistema. “A TV digital só vai conquistar o mercado de massa se agregar algo nov, algo que possa mudar a vida das pessoas – seja em lazer, serviços, comércio, etc.”, afirmou Wortsman.

Durante o evento "TV Digital: Uma nova oportunidade para as empresas de software" realizado nesta quarta-feira (24/09), em São Paulo, foi discutido o que as indústrias de software têm feito para dar impulso ao sistema. “Passamos da infância para a adolescência”, explicou Wortsman. A questão é que ainda não foi definida uma data específica para o início das transmissões com opções de interatividade. “Se não sair agora, vamos perder uma oportunidade ímpar de pegar uma tecnologia brasileira inovadora e leva-la para fora”, observou Salustiano Fagundes, presidente da HXD, empresa focada na criação de aplicações interativas para TV digital.

O impasse da interatividade passa pela regulamentação do Ginga, o middleware que possibilita o funcionamento das aplicações recebidas nos aparelhos. A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) desenvolveu um middleware baseado na linguagem NCL-Lua, pronto para ser utilizado e com lançamento defendido por empresas interessadas – caso da HXD.

Mas o Fórum SBTVD (entidade criada pelo governo federal que reúne representantes das emissoras de radiodifusão, fabricantes, empresas de software e instituições acadêmicas para discussão do sistema), vai contra essa idéia. Roberto Franco, presidente da entidade, quer o lançamento somente após o Ginga baseado em linguagem Java for aprovado – questão que não foi resolvida antes porque alguns componentes são patenteados e foi necessário desenvolver uma nova plataforma livre de royalties. A Sun está por trás dessa plataforma e promete disponibiliza-la até o final do ano.

Salustiano, da HXD, diz que, se forem esperar todo o processo – entrega do Ginga especificado em Java, o desenvolvimento de aplicações e o início do uso -, a interatividade só chegará daqui a dois anos. Já Wortsman, da Brasscom, defende o lançamento do middleware com responsabilidade para que fabricantes não tenham de se adaptar às mudanças de hardware que possam ser necessárias futuramente, caso haja a integração com a linguagem Java. É a mesma posição de Franco, cuja entidade será responsável por definir um padrão de qualidade a ser seguido. “O Fórum vai disponibilizar o Ginga somente quando houver uma especificação que atenda a todas as demandas [de linguagem]”, ressaltou.

Chance de ouro – Wortsman disse que a implementação de um sistema interativo eficaz é a chance de ouro de o Brasil sair na frente do restante do mundo – assim como aconteceu no caso da automação bancária (há cerca de duas décadas), no modelo eletrônico adotado para as eleições ou no recolhimento de impostos pela Receita Federal. o desafio é criar uma ponte entre as linguagens Java e NCL. David Brito, presidente da Quality (empresa que, junto à Totvs, criou a joint-venture TQTVD para TV digital), compartilha da mesma opinião e diz que o Brasil está na dianteira mundial do desenvolvimento de middleware do tipo, tanto é que a empresa que comanda tem um projeto que integra as duas bases – o AstroTV.

Entidades de Software endossam Ginga 1.0

As principais entidades da área de software – Brasscom, Softex, ABES, Assespro – entregaram um documento oficial à direção do Fórum SBTVD na reunião do Conselho Administrativo, realizada há 15 dias. Nele, elas defendem a adoção o quanto antes da versão Ginga NCL/Lua no mercado brasileiro.

Temor é que à espera da versão Ginga Java free – que será entregue ao mercado para desenvolvimento em dezembro pela Sun Microsystems – faça o Brasil perder uma "janela única de oportunidade". Medida, no entanto, é recebida com cuidado redobrado pelo Fórum SBTVD. Há um forte conflito de interesses entre fabricantes de conversores, radiodifusores, desenvolvedores de software e Academia.

"Não gosto de falar em Ginga 1.0, porque isso me faz pensar em várias versões pela frente. Não gosto desse nome. Como presidente do Fórum SBTVD posso afirmar que precisamos ter cautela para que essa versão NCL/Lua, de fato venha a ter conformidade com a versão Ginga Java e não haja problemas de interoperabilidade mais à frente", ponderou Roberto Franco, que participou nesta quarta-feira (24), de um debate sobre a participação da Indústria de Software na TV Digital, promovida pela Brasscom, na capital paulista.

Franco admite que uma das maiores preocupações dos radiodifusores é que não venha a existir um legado em relação à essa versão Ginga 1.0, a ser lançada antes do Ginga Java Free. "Temos que ter compromissos formais de plataformas mínimas interoperáveis para que o investimento feito em dezembro pelo consumidor não venha a ser perdido em curto espaço de tempo", exemplifica o executivo. O presidente do Fórum SBTVD diz que já há um legado – conversores vendidos sem o Ginga -que terá de vir a ser administrado mais cedo ou mais tarde.

"Quem comprou agora um conversor sem interatividade vai gostar de saber que terá de troca-lo em menos de um ano?", indaga. A divisão da indústria da TV digital com relação ao lançamento imediato do middleware Ginga é evidente. Se de um lado os desenvolvedores de aplicativos querem a interatividade o quanto antes para que possam mostrar o valor das suas soluções e, claro, ganhar dinheiro com os negócios a serem fechados, de outro, há o posicionamento dos fabricantes. Eles simplesmente se mantêm fora dessa discussão. A Academia também preferiu ficar à parte dessa discussão inicial.

"Os interesses comerciais dos fabricantes e da Academia não permitiram a participação deles no grupo de trabalho que está, ao lado da Sun Microsystems, desenvolvendo a versão do Ginga Java free. Até porque quem entra nesse grupo é obrigado a assinar um contrato dizendo que não vai cobrar patente. E vivemos num mundo competitivo. Não houve ainda a percepção do momento", lamentou David Britto, diretor da TQTVD, que está desenvolvendo o seu próprio middleware- o AstroNet.

O Grupo de Trabalho que desenvolve o Ginga Java, com a Sun, é composto de apenas sete empresas – duas de radiodifusão – Globo e SBT – e duas de software – TQTVD e Hyrix. Número considerado bem aquém do ideal para a discussão técnica e da mobilização necessária de um setor que pode estar tendo pela frente uma chance única de ganhar presença mundial.

As entidades de classe – que não participam do Fórum SBTVD por decisão do governo – mesmo formalizando o apoio ao lançamento do Ginga 1.0 tentam minimizar os conflitos, mas assumem que a TV Digital vive, hoje, um momento de definição.

"São gigantes, competidores entre si que estão sentando à mesa para dialogar sobre um tema absolutamente recente. Não é simples. Não é mais apenas uma questão tecnológica. Ela é política e financeira. Não é uma mudança da convergência. É cultural", sublinhou Nelson Wortsman, diretor de Convergência Digital da Brasscom.

A questão é tão delicada que Roberto Franco, com o "chapéu" de diretor da SBT, assume que já faz testes com interatividade com o Ginga NCL/Lua e, até o momento, não há nada que reforçe a idéia que a interatividade não poderia ser aplicada – nas cidades onde há TV digital. "Como SBT quero interatividade para ontem. Essa é a verdade. Mas há que sem pensar no todo", detalhou.

Franco assume que a capilaridade da TV digital no Brasil ainda é pequena – há um custo considerável de investimento -, mas também observa que há uma realidade nacional: a burocracia. "No Rio de Janeiro, por exemplo, levamos oito meses negociando com o Ibama para colocar uma antena digital no mesmo lugar onde já havia outra antena. Esse é apenas um exemplo. Teremos essa negociação em todo o país. E não apenas nós, mas todos os radiodifusores", completou o executivo.

Brasil e Argentina selam acordo para adoção do ISDB

O Brasil está prestes a comemorar a primeira adesão de um país vizinho ao padrão ISDB de TV digital. Nesta segunda-feira (8), a equipe da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e membros do governo brasileiro assinaram uma declaração oficial para trabalhar conjuntamente nos estudos tecnológicos e pesquisas sobre o padrão digital escolhido pelo Brasil. Mesmo sem ter anunciado formalmente a escolha do sistema ISDB, o acordo assinado pela Argentina é tratado pelo governo como o primeiro passo em direção à adoção.

“É o primeiro passo para a adoção do padrão japonês com ferramentas brasileiras para interatividade”, afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, após o evento. “Se a escolha for feita, é um passo importantíssimo para as comunicações na América do Sul”, complementou.

A iniciativa de fazer essa manifestação formal de estudos conjuntos partiu dos argentinos, segundo o assessor especial da Casa Civil André Barbosa, que participou da solenidade realizada no Palácio do Planalto nesta segunda, onde foram fechados diversos acordos entre os dois países. Apesar de nenhum membro do governo afirmar categoricamente que a escolha do ISDB foi selada nesta manhã, há poucas dúvidas de que esta seria uma sinalização bastante contundente de que a Argentina irá aderir ao sistema.

Barbosa lembra que o próprio Brasil passou pela mesma situação em 2006 quando decidiu-se pelo padrão japonês de TV digital: primeiro firmou um termo de cooperação e, alguns meses depois, efetivou formalmente a escolha. O anúncio oficial, porém, partirá do governo argentino, caso este mantenha a intenção sinalizada hoje.

Em 10 dias

Se o Brasil levou meses entre o primeiro acordo e a efetiva adoção do sistema, a Argentina deve ser mais veloz em seu cronograma. Na semana passada, a imprensa argentina já anunciava a escolha do ISDB e aguardava que o anúncio fosse formalizado hoje no Brasil. O anúncio não ocorreu, mas as perspectivas são de que em dez dias o termo final seja assinado.

Está prevista uma visita do vice-ministro de Assuntos Internos e Comunicações do Japão, Akira Terasaki, à Argentina no dia 18 de setembro. Nessa data, uma comitiva brasileira também deve aterrissar em solo argentino com o objetivo de assinar em definitivo o acordo de adoção do ISDB.

Cristina Kirchner vem ao Brasil discutir adoção do padrão nacional

Na próxima semana, uma comitiva argentina virá ao Brasil para, entre outros assuntos, estreitar o diálogo sobre a adoção do padrão brasileiro de televisão digital naquele país. O grupo será liderado pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, convidada pelo governo brasileiro para participar das comemorações do Dia da Pátria (7 de setembro). O cerimonial do Palácio do Planalto confirmou a vinda da chefe de Estado no domingo (7). Na segunda (8), Cristina e seus ministros têm agenda marcada com diversos órgãos do governo brasileiro e um dos temas é a TV digital.

Convencer a Argentina a aderir ao padrão adotado no Brasil, o ISDB-T, e atualizado por pesquisadores locais faz parte da estratégia do governo de transformar o sistema nipo-brasileiro em um padrão na América Latina. Além da Argentina, o governo tem conversado com Chile, Peru, Venezuela, Paraguai e Bolívia. Alguns flertam com outros países na escolha do padrão de televisão digital, como é o caso do Chile, que já teria feito uma escolha prévia do padrão norte-americano, o ATSC, mas voltou atrás no final do ano passado e retomou as análises dos sistemas.

A batalha para expandir o padrão nipo-brasileiro para além das fronteiras nacionais já sofreu duas derrotas. Em agosto de 2007, o Uruguai optou pelo padrão europeu, o DVB. A Colômbia também anunciou há alguns dias a adoção do sistema europeu. Para o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, a escolha colombiana não impede que o governo brasileiro continue negociando com o país outras questões relevantes para o mercado futuro a ser criado com a digitalização, como interoperabilidade dos sistemas e o estabelecimento de um acordo que permita a compra e venda de produções feitas pelos dois países.

Teria pesado na escolha da Colômbia outros critérios para além da qualidade técnica do sistema DVB, já que aquele país possui boas relações com a Telefónica de Espanha, defensora do padrão europeu. Barbosa não vê nenhum problema nisso, uma vez que o próprio Brasil considerou contrapartidas com o Japão na negociação que culminou na adoção do ISDB.

O mais evoluído

O governo brasileiro está muito seguro do produto que está tentando “vender” aos países vizinhos. Com os avanços feitos por pesquisadores brasileiros, os porta-vozes da negociação não se intimidam de colocar o padrão nipo-brasileiro como o mais avançado dentre os sistemas disponíveis hoje no mercado. “Na foto que existe hoje, somos o (país) que tem os equipamentos mais evoluídos. E eu espero que isso possa ser passado para outros países”, avalia Barbosa, que trata do assunto dentro da Casa Civil.

Além de oferecer um sistema mais atualizado do que os demais disponíveis, o governo brasileiro assegura que não cobrará royalties de quem adotar o padrão e que estimulará a pesquisa conjunta dos países, transferindo a tecnologia para os futuros parceiros. Há um viés político também nas negociações, na medida em que o Brasil defende a constituição de um player global com a adoção do padrão pela América Latina, o que garantiria força e escala para que os países do grupo pudessem competir com os demais sistemas em funcionamento do mundo.