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Indústria terá que ampliar fabricação de aparelhos adaptados

O governo prepara novas medidas para acelerar a implementação da TV digital brasileira. Depois que os Ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia estabeleceram cotas de fabricação de celulares para a recepção dos sinais digitais de TV, agora será a vez dos fabricantes de aparelhos de TV também terem novas regras de produção.

A proposta, que está sendo capitaneada pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, é para que os fabricantes passem a ter também cotas crescentes de produção de televisores com a recepção digital, até que toda a produção nacional de TV fique exclusivamente digital. Duas são as alternativas em estudo pelo governo, que serão apresentadas aos fabricantes, antes de lançadas à consulta pública.

Em troca dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus, a indústria começaria a incorporar o set-top box nos modelos de telas maiores. E seriam estabelecidos prazos para a incorporação das outras linhas de telas menores. Outra proposta em estudo seria a de apenas estabelecer um percentual anual de fabricação de aparelhos de TV digital deixando a critério da indústria a escolha dos modelos.

Nas duas propostas, porém, será definida uma data final de quando não poderá mais haver aparelhos de TV fabricados no Brasil sem a incorporação da recepção digital. E, segundo fontes do governo, essa data não deverá passar de 2014.

Interatividade só estará disponível em 2010

Mal começou 2009 e boa parte do que a TV digital brasileira prometeu para este ano vai ficar para o próximo. A interatividade, divulgada como principal chamariz do sistema para este semestre, só deve chegar efetivamente aos televisores em 2010, segundo o Fórum Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD).

As vendas de conversores com o middleware Ginga, responsável pela interação com o conteúdo digital, devem começar no próximo Natal, o que empurra a adesão ao sistema para o decorrer do ano que vem. A informação foi confirmada pela Folha Online com o presidente do fórum e vice-presidente do Grupo Bandeirantes, Frederico Nogueira.

De acordo com ele, as especificações do sistema serão fechadas até junho. "O mercado ainda não está preparado", ponderou, em palestra ocorrida em São Paulo na última semana. Depois, as especificações ainda precisam ser aprovadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Em outubro do ano passado, Roberto Franco, então presidente do fórum, já havia adiado a estreia da interatividade para este semestre. Na época, alegou que se tentava resolver um imbróglio envolvendo eventual pagamento de royalties pelo sistema. Nogueira, por sua vez, diz que o novo atraso se deve a motivos de "segurança", sem especificar quais.

As emissoras já fazem testes internos com essas plataformas, mas para implementá-las têm de esperar as definições técnicas e o lançamento de conversores com o Ginga, que devem chegar às prateleiras com preço ainda mais salgado do que as caixinhas vendidas hoje –as mais baratas custam cerca de R$ 300. Quem já comprou o conversor precisará procurar outro, caso queira interagir com a programação.

Para Otto Klaus Spiess, gerente de Projetos e Vendas para América Latina da TechnoTrend, empresa da área de soluções tecnologia que trabalha com "set-top box", o mercado de TV digital estacionou na "zona de conforto".

"Se a interatividade for sinônimo de nova forma de receita, com certeza haverá um crescimento para ela. Mas, hoje, a visão é que seja apenas geradora de custos", diz.

A TV digital brasileira estreou oficialmente em 2 de dezembro de 2007, com uma festa para políticos e radiodifusores na Sala São Paulo (centro). Cerca de um ano depois, 0,3% da população tem acesso ao sinal.

Transição nos Estados Unidos pode custar mais que o esperado

De acordo com noticiários locais, a transição para a TV digital nos Estados Unidos está fugindo do plano inicial. Os problemas começam a ficar mais evidentes com a aproximação da data de desligamento total dos sinais analógicos, o que acontece no dia 17 de fevereiro. Dentro do esforço de garantir que ninguém fique sem receber o sinal da TV aberta, o governo norte-americano vem distribuindo junto às famílias de baixa renda cupons que podem ser trocados por conversores de TV digital. Até o momento, 17,5 milhões foram trocados. Contudo, o comitê responsável pela distribuição dos cupons está pedindo mais recursos, temendo que nem todas as famílias sejam atendidas. Segundo dados da Nielsen, em dezembro, 6,8% dos lares norte-americanos estavam completamente despreparados para a transição. Em outras palavras, não tinham receptores digitais de TV aberta e nem assinavam nenhum serviço de TV paga.

O programa conta com recursos da ordem de US$ 1,5 bilhão, e está alertando o governo Bush que deve precisar de mais US$ 250 milhões a US$ 325 milhões. Os gastos vão além do investimento em cupons em si, já que estão sendo colocados recursos em campanhas para educar sobre os novos equipamentos e instalação de antenas externas em áreas rurais e nas residências de idosos e deficientes físicos.

Preço alto

Paralelamente, outro problema pode levar parte da população a perder os sinais da TV aberta: a falta de acordo entre operadores de cabo e emissoras abertas em relação ao preço da programação. Vale lembrar, a regra do must carry nos Estados Unidos obriga os operadores de cabo a carregar os sinais das emissoras locais que desejem abrir sua programação. Contudo, as emissoras não são obrigadas a abrir o sinal, podendo, inclusive, cobrar por ele.

Recentemente, a Viacom e a Time Warner Cable travaram, publicamente, uma disputa neste sentido. Embora as duas gigantes tenham chegado a um acordo, há ainda a ameaça do corte do sinal da TV aberta para os assinantes de outras operadoras de cabo. A American Cable Association (ACA), que reúne operadores independentes de cabo, reclama que muitos canais locais estão cobrando mais para liberar seus sinais, como forma de compensar os investimentos na digitalização e os efeitos da crise. Por enquanto, a associação diz que a maioria dos operadores acaba aceitando os preços mais altos, já que o corte dos sinais locais poderia implicar perda de assinantes. Contudo, em algumas localidades os sinais locais foram cortados. No DTH, o mesmo vem acontecendo. Tanto a DirecTV quanto a Dish Network deixaram de transmitir alguns canais.

A ACA diz que o custo dos sinais abertos varia de US$ 0,25 a US$ 0,60 por assinante. O sinal, na maioria dos casos, era entregue gratuitamente.

Ausência de demanda é resultado de modelo equivocado

No dia 2 de dezembro, a TV digital completou seu primeiro ano de vida no Brasil. O aniversário da primeira transmissão de sinais digitais de TV, realizada em São Paulo, foi basicamente tratado pelo Ministério das Comunicações e os radiodifusores como oportunidade para tentar colocar em evidência a nova tecnologia, que, afinal, em 12 meses não mostrou a que veio. Números do próprio setor demonstram que a implantação da TVD no Brasil ocorre em índices insatisfatórios.

A Associação de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), por exemplo, estima que até o fim do ano terão sido vendidos 470 mil conversores ou aparelhos adaptados para receber o sinal digitalizado. Isso significa que apenas apenas 0,5% da população tem hoje condições reais de aproveitar a nova tecnologia.

As razões para a baixa penetração da TV digital são várias e as declarações dadas nas últimas semanas por atores envolvidos no processo de implantação deixam clara a disputa de versões sobre o gargalo do processo. Nesta briga, ora a culpa é da oferta reduzida, ora da demanda não estimulada.

Para o ministro das comunicações, Hélio Costa, a venda reduzida de conversores seria resultado da baixa oferta deste tipo de dispositivo no mercado por parte dos fabricantes. “O que está faltando é um política industrial capaz de atender à necessidade de se produzir em grande escala o conversor de TV digital popular. Ele está sendo produzido, mas são 100 mil conversores por mês e a demanda é de mais de 1 milhão”, afirmou.

Já os fabricantes evitam incrementar a produção dos conversores sob a alegação da baixa perspectiva de venda. Para agentes do setor e para pesquisadores, a falta de interesse dos consumidores é gerada basicamente por dois fatores: o preço dos conversores e o modelo tecnológico e de negócio adotado, que não resultou na criação de novos conteúdos e funcionalidades para a boa e velha televisão.

Preço e redução de impostos

Até julho deste ano, os conversores disponíveis no mercado eram vendidos por cerca de R$ 600. A empresa Proview lançou naquele mês um modelo mais barato, anunciando reduzir o valor para até R$ 199. Passados seis meses, no entanto, o preço permanece na casa dos R$ 300. Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador na área Marcelo Zuffo, para que o preço baixe para R$ 200 reais seria preciso um ganho de escala maior do que as 500 mil vendas. E aí se esbarra novamente no dilema: o preço não baixa porque não há escala e esta não é adquirida porque o preço mantém-se alto em um país com terrível distribuição de renda.

Em razão deste problema e na ausência de uma iniciativa do mercado, a solução deve vir com o investimento de recursos públicos na forma da redução de impostos. “Acho que o próprio governo tem espaço para reduzir impostos na área federal. Se conseguíssemos tirar o PIS e a Cofins, já teríamos aí um desconto básico de 30% no preço do conversor”, disse Costa.

Tentando apontar uma justificativa mais comportamental, Walter Duran, diretor de Tecnologia da Philips para América Latina, credita a baixa penetração a um fenômeno natural de resistência a novas tecnologias. “A população em geral tende a ser reativa a toda introdução de produtos com tecnologia inovadora. Ela demora um tempo para reagir a essa inovação; muitas vezes reage negativamente”, argumenta. Ele lembra que o DVD vendeu apenas 35 mil unidades em 1999 e, cinco anos depois, atingiu a marca de 2 milhões de aparelhos.

Problema no modelo

A comparação, no entanto, não se sustenta dentro das regras de mercado. No caso do DVD, o novo dispositivo trazia novas funcionalidades para além da melhoria na qualidade da imagem, o que criou demanda naturalmente. Em segundo lugar, a curva descendente nos preços do aparelho de DVD – que acompanha a ascensão rápida nas vendas – ocorreu porque a tecnologia foi adquirida inicialmente pelo conjunto das classes mais ricas, gerando a base para uma redução no valor para as pessoas com menor renda.

Isso se deu pelo fato de o DVD ter substituído totalmente seu antecessor, o videocassete, e não ter ainda um concorrente de peso. Além disso, diferente do padrão de TV digital adotado no Brasil, a tecnologia do DVD foi e é comercializada em escala mundial. Os equipamentos para TV digital necessários em terras brasileiras só são vendidos aqui e no Japão.

Para Gustavo Gindre, ocupante de uma das cadeiras da sociedade civil do Comitê Gestor da Internet no Brasil e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, a baixíssima atratividade da TV digital se deve ao modelo equivocado adotado pelo país. A adoção do padrão japonês de modulação associada à opção de uso da nova tecnologia feita pelas emissoras não oferece ao telespectador nada além da alta definição de imagem e, por isso, esbarra na concorrência de outros segmentos que oferecem mais canais e funcionalidades interativas, como a TV paga, a IPTV e a internet.

Sem atrativos

"A TV digital aberta no Brasil é a velha TV aberta analógica, apenas com uma imagem melhor – e mesmo assim, onde não há áreas de sombras”, comenta. Gindre faz questão de frisar que “todas as grandes oportunidades de transformações foram negligenciadas em nome dos interesses dos radiodifusores” e, portanto, não há razão para que o cidadão tenha interesse em comprar um set top box. “Se ele quer serviços interativos, vai para a internet. Se quer muitos canais, vai para a TV paga (ou para o 'gatonet'). Com isso, a penetração da TV digital aberta ainda é baixíssima e não há perspectivas dessa curva de adoção mudar nos próximos anos", analisa.

Para o professor da PUC do Rio de Janeiro Marcos Dantas, o governo federal abandonou os princípios do Decreto 4903/2003, que criou o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD). Segundo ele, a adoção real deste princípios dariam um diferencial à nova tecnologia, como a inclusão social, a democratização da informação e o uso de funcionalidades interativas para criar uma rede de educação à distância.

Na avaliação de Nelson Wortsman, da empresa de software Brasscom, a TV digital só ganhará penetração se as pessoas virem neste meio algo que faça diferença em suas vidas e que tenha um diferencial de fato em relação aos outros.

Valdecir Becker, diretor da ITV Produções Interativas, argumenta na mesma direção. “Creio que o motivo [da baixa penetração] seja o conteúdo. Além de ainda não termos interatividade, que deve começar no primeiro semestre do ano que vem, há pouco conteúdo em alta definição. Então, mesmo para quem tem condições financeiras de ter o equipamento, o investimento ainda não está valendo a pena”, avalia.

Sem alta definição, interatividade ou mais canais

Matéria veiculada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” revela que as emissoras veiculam apenas 10% de seus programas em alta definição. Para Roberto Franco, diretor de tecnologia do SBT, “à medida que mais pessoas aderirem, elas nos forçarão a aumentar a quantidade”. Aparece aí novamente o dilema: não há oferta porque não há demanda e vice-versa.

Em relação à interatividade, o middleware Ginga, que seria a única inovação nacional no sistema dito nipo-brasileiro, permanece ainda não finalizado por conta de problemas de royalties com um de seus componentes. “O atraso [do Ginga] tem gerado um passivo de set top box não interativos”, lamenta Gustavo Gindre.

Já a ausência de um modelo que privilegie a multiprogramação dificulta a concorrência da TV digital aberta com outros serviços, que oferecem mais canais. Enquanto as emissoras públicas irão promover a multiplicação de suas programações, as comerciais, que reúnem 95% da audiência desta mídia, não devem apostar nisso.

“A multiprogramação é modelo de negócio, cada emissora determina o seu. A Globo, que tem programação 'premium', jamais vai trabalhar com multiprogramação, o negócio dela é alta definição. Já a TV Senado ganha com a multiprogramação, porque pode exibir o plenário em um canal e as comissões em outro, já que quando tem CPI as comissões dão muito mais ibope que o plenário", diz Carlos Fructuoso, que participa do Fórum SBTVD, espaço que congrega empresas e pesquisadores na articulação da implantação desta nova tecnologia no país.

"A TV aberta comercial tem medo de qualquer outro modelo de negócios. Portanto, falar em 'interatividade' ou aumento do número de programações disponíveis tornou-se um anátema no Fórum do SBTVD", reforça Gustavo Gindre. Neste cenário, não há nenhuma garantia que as classes mais ricas deverão adquirir o conversor, o que pode ocasionar em uma barreira à redução dos preços dos conversores.

Se é fato que o cronograma de início das transmissões nas cidades está sendo bem atendido – com emissoras operando nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Campinas – as dificuldades apontadas continuam como um dilema com perspectivas nada animadoras de solução. Após uma preocupação inicial com o ritmo da migração das emissoras e com o preço dos conversores, a questão volta-se novamente ao modelo adotado.

No atual, ganham as emissoras ao preservarem o espectro para si e impedirem a entrada de novos concorrentes. Mas perdem estas e a sociedade com um projeto pela metade, que desperdiça as potencialidades e, com isso, ainda permanece sob a etiqueta de curiosidade, distante da população.

* Com informações de Agência Estado, Uol Tecnologia, Infomoney e B2B Magazine.

Jovens da elite querem interatividade na TV, inclusive internet

No dia em que o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) completa um ano de início de sua implementação, a Philips divulga uma pesquisa sobre o futuro da televisão no País. Entre vários aspectos, o estudo “TV no Brasil: o Presente e o Futuro” conclui que os jovens das classes A e B não querem mais uma TV passiva, estática, mas sim moderna e interativa.

“A interatividade depende da forma como ela chega. Pode ser pela TV digital (Ginga, o middleware que permite isso) ou não”, observa Gabriel Aleixo, gerente de inteligência de mercado da fabricante de eletrônicos. Apesar de falar sobre os próximos passos da televisão no Brasil, a pesquisa não aborda a questão da TV digital – segundo o porta-voz, por ainda haver indefinições sobre o sistema e envolver questões políticas.

A interatividade a qual Aleixo se refere não é a mesma que deve ser proporcionada com a implementação do Ginga – com aplicativos que devem estar disponíveis na tela do aparelho, por exemplo. Mas sim a possibilidade de acessar a internet, algo que ele prevê que alguns fabricantes já comercializarão no próximo ano. Mesmo assim, não descarta a importância do SBTVD. “A TV digital deve viabilizar a interatividade desejada”, diz.

Estudo da Philips

Segundo a pesquisa encomendada pela fabricante ao instituto Voltage e feita com 400 consumidores paulistanos e cariocas das classes A e B+, 19% deles têm ao menos um aparelho de Flat TV (tamanho fino). Cerca de 45% deles pretendem comprar um aparelho do tipo, sendo que 98% são novos consumidores.

Já a pesquisa qualitativa sobre a TV dos sonhos, realizada com 20 consumidores da classe A de São Paulo e do Rio de Janeiro, com idades entre 20 e 40 anos, aponta que eles querem interatividade com o aparelho, como uso de comando de voz para ligar/ desligar e trocar de canal, acesso à internet, possibilidade de fazer ligações e até mesmo atender à campainha pela televisão.

Um ano de dúvidas

Em 2 de dezembro de 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início às transmissões de áudio e som digitais da televisão brasileira. De lá para cá, muitas promessas, expectativas de vendas de conversores e pouca adesão. Apesar de já estar disponível para 40 milhões de telespectadores em todo o País, a estimativa do próprio Fórum SBTVD (entidade responsável pelas decisões sobre a implementação do sistema) é de que apenas 645 mil telespectadores recebam o sinal digital.

Para representantes do setor de software, como Nelson Wortsman, da Brasscom, a TV digital só vai emplacar de fato quando o público consumidor notar que vai fazer alguma diferença de fato em suas vidas. No final de setembro, o representante do Ministério das Comunicações, Augusto Gadelha, chegou a afirmar que o Ginga entrará no mercado até maio de 2009. O Fórum SBTVD não confirma, mas deve começar a trabalhar para que até lá já sejam vendidos conversores que permitam a interatividade na televisão.