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Para senador, Anatel ‘rasgou planejamento de cabo’

Na segunda matéria produzida pela TV Bandeirantes contra a cautelar da Anatel que abriu o mercado de TV a cabo a novos competidores parlamentares expuseram suas preocupações com a ação da agência reguladora. As declarações mais fortes partiram do senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM/BA), que disse suspeitar que a agência pretende beneficiar um grupo específico com a medida. "Parece dirigida. A minha preocupação é essa. Eu gostaria de saber quais são as razões, o quê motivou a Anatel a quase rasgar o planejamento (de TV a cabo)", declarou o parlamentar à reportagem do Jornal da Band.

O senador se disse "perplexo" e "preocupado" com as decisões da Anatel sobre esse tema e afirmou que foi esse o motivo de ter apresentado questionamentos ao Ministério das Comunicações e à agência reguladora sobre o assunto, conforme divulgado ontem por este noticiário. De acordo com a reportagem da Band, os parlamentares estariam inclusive dispostos a levar o assunto à Justiça, caso a autarquia insista em distribuir as novas licenças.

O deputado Júlio Semeghini (PSDB/SP) também foi ouvido pela reportagem e ponderou que a outorga das licenças só pode ser feita se a Anatel estipular um sistema de contrapartidas, onde as empresas sejam obrigadas a fazer os investimentos necessários à expansão do serviço no país. O presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg, reforçou sua preocupação de que o novo modelo adotado pela agência acabe prejudicando uma concorrência efetiva, pois há uma limitação natural à construção de infraestrutura para a oferta de serviços de cabo. "A entrada indiscriminada de um grande número de operadores vai contra a limitação natural de mercado que existe para a construção de novas redes", afirmou.

Por conta dessa restrição concreta, a reportagem conclui que as grandes beneficiárias com o modelo proposto pela agência reguladora são as teles, que já possuem grandes redes de cabo. E compara os faturamentos dos dois segmentos para sugerir que as teles terão muito mais fôlego para dominar o mercado do que as TVs a cabo: enquanto o setor de telefonia fatura R$ 180 bilhões ao ano, as TVs pagas ganham R$ 10 bilhões. "Para elas, o que interessa é explorar a oferta de Internet em banda larga, um serviço que vem recebendo críticas como você vai ver na reportagem de amanhã", conclui o repórter, anunciando mais uma matéria especial sobre os efeitos da medida cautelar da Anatel.

Em nota, Anatel reitera que abertura do mercado de cabo ampliará concorrência

A Anatel divulgou nesta terça-feira, 20, uma Nota de Esclarecimentos em que defende sua decisão de abrir por medida cautelar o mercado de TV a cabo no Brasil, derrubando as limitações existentes para novas operadoras nesse setor. O posicionamento oficial da Anatel é uma resposta à matéria veiculada ontem pela TV Bandeirantes, no Jornal da Band, onde são apresentadas críticas à redução da arrecadação aos cofres públicos por conta da decisão da agência de cobrar apenas o preço público, de R$ 9 mil, pelas novas concessões.

Em sua defesa, a autarquia alega que "grande parte" das outorgas de TV a cabo no Brasil são datadas de 1996, por conta da migração das antigas licenças de Distribuição de Sinais de TV por Meios Físicos (DISTV). O breve histórico serve como argumentação para a cobrança, nos dias atuais, do preço público, uma vez que as empresas que passaram por esta migração não pagaram nada pelas outorgas.

A equipe da agência sugere também que o baixo custo das outorgas no novo modelo proposto pode ser inclusive benéfico ao consumidor. "O preço pago por parte das outorgas foi definido em licitação e outras tantas se deram sem custo. Mas, por se tratar de um serviço privado, os valores pagos são repassados aos preços cobrados pelo serviço aos consumidores e constituem uma das limitações para o atendimento de classes de mais baixa renda", afirmam os representantes da agência.

Apesar de citar os casos em que não houve pagamento pela outorga, pela migração do DISTV, a Anatel não entra em detalhes sobre a quantia arrecadada nos leilões durante o processo de licitação de 1999 a 2001. Este foi o principal ponto apontado pela matéria da Bandeirantes, apontando uma arrecadação de R$ 932 milhões em valores atualizados com as licenças, de acordo com dados da própria Anatel. Assim, mesmo que muitos não tenham pago pelo direito de exploração, a agência fez uma forte arrecadação com os "poucos" que entraram no segmento por leilão. Caso a Anatel opte pelo preço público, a arrecadação seria de apenas 1% desse montante, também de acordo com a reportagem da Band.

Sem foco nas teles

A segunda parte da nota dedica-se a defender a necessidade de ampliação da concorrência e negar que a intenção da Anatel seja abrir caminho para que as teles entrem no mercado de TV a cabo. Segundo a agência, a entrada das concessionárias de telefonia fixa nesse mercado é um tema "que se mantém regido pela legislação e pelos contratos vigentes e que tem sido objeto de debate no Congresso Nacional, cabendo à Anatel regular o setor de telecomunicações nos estritos termos constitucionais e legais".

Acontece que prevalece na Anatel a interpretação que, sem a limitação do número de operadoras de cabo, suspensa pela cautelar do Conselho Diretor, a principal barreira para que as teles entrem no mercado desapareceria. Isso acontece porque, na interpretação da agência, a barreira estaria localizada nos processos de licitação, onde as teles só poderiam participar caso o leilão fosse considerado anteriormente "deserto", ou seja, sem outros interessados. Se não forem feitos mais leilões, como a Anatel pretende, não existiriam mais barreiras às teles.

Na nota, a agência insiste ainda na importância da abertura desse segmento a outros concorrentes como forma de ampliar a oferta ao consumidor e reduzir os preços do serviço. "Além dos benefícios para os consumidores decorrentes da ampliação da competição entre empresas, a medida da Anatel impulsiona a geração de empregos, a redução de desigualdades regionais, o desenvolvimento tecnológico, a ampliação da infraestrutura de suporte à banda larga, a indústria de entretenimento, sem contar com o aumento da receita de tributos arrecadados pelos Estados, como o ICMS, em razão de novas operações de TV a Cabo", argumenta a agência.

Band ataca cautelar da Anatel e diz que abertura do setor de cabo sem licitação beneficia as teles

Desde que a Anatel decidiu cautelarmente suspender o Planejamento de TV a Cabo e, assim, derrubar as barreiras de entrada para novos operadores do serviço, a medida tem ganhado publicamente mais críticos do que apoiadores. Um desses segmentos desconfiados dos resultados da ação resolveu partir para o ataque nesta segunda-feira, 19. As críticas foram apresentadas pela TV Bandeirantes, em matéria veiculada no Jornal da Band.

O foco de críticas da emissora foi o preço que a Anatel pretende cobrar pelas licenças de cabo a partir de agora. Já que a agência não irá mais fazer licitações, a escolha interna foi a de fixar como custo para a concessão o preço público, de R$ 9 mil. Pelos cálculos apresentados pela emissora, a emissão das licenças no novo sistema implantado pela agência renderá aproximadamente R$ 9 milhões.

O valor é 1% do total arrecadado pela União desde 1997, quanto foram realizados leilões de concessão de cabo. Nesses 13 anos, essas licitações renderam aos cofres públicos R$ 932 milhões em valores atualizados. A matéria aponta que, com esses recursos, o governo federal poderia "construir 25 hospitais de médio porte ou reformar completamente o estádio do Maracanã, deixando-o pronto para a Copa do Mundo de 2014".

Segundo a reportagem, a iniciativa da Anatel é um "golpe contra o contribuinte" e "quer conceder quase de graça licenças para comercializar o serviço". O objetivo seria beneficiar um pequeno grupo de empresários: as teles. "Além do rombo milionário na arrecadação pública, a proposta da Anatel tem endereço certo: as principais beneficiárias com as novas regras seriam as empresas de telefonia, que conseguiriam entrar no setor pagando quase nada por isso", afirma o repórter ao final da matéria.

Posição da Abert

O consultor da Abert, Gustavo Binenbojm, ouvido pela matéria, criticou a iniciativa. Vale lembrar que a Band é vinculada à Abra, e não à Abert, o que mostra um alinhamento dos radiodifusores nessa causa. "Ao contrário do que possa parecer, a medida da Anatel não tende a beneficiar a concorrência. Uma abertura indiscriminada e açodada pode na verdade favorecer uma grande concentração econômica no setor", analisou o advogado. O especialista em contas públicas, João Carlos Almeida, também apresentou ressalvas com relação à liberação do mercado de TV a cabo. "Nós temos que levar em consideração a responsabilidade fiscal. Porque um órgão regulador deixar de ter uma receita tão grande realmente é muito preocupante", comentou.

Pancada aguardada

Longe de ser apenas uma matéria crítica à iniciativa, a veiculação do material pela Band era aguardada pelo setor por simbolizar um posicionamento da emissora na disputa em torno da abertura do mercado de cabo. A própria Band deixou claro desde sexta-feira a importância da matéria que iria ser transmitida nesta segunda, por meio de inserções na programação. A expectativa do que seria divulgado causou apreensão dentro da Anatel durante todo o dia de hoje.

A Band prometeu ao final da matéria apresentar uma nova reportagem sobre o assunto nesta terça, desta vez destacando as críticas de deputados e senadores com relação à Anatel. Os parlamentares não estão nada satisfeitos com a condução do assunto pela agência reguladora. Nesta segunda, chegou à Anatel um requerimento do final de junho da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Inovação do Senado listando uma série de perguntas sobre a legalidade da cautelar. O autor do requerimento é o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM/BA), membro da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado Federal e dono de uma operadora de TV paga na Bahia (Bahiasat).

No documento, subscrito por outros senadores da CCT, o parlamentar questiona se a Anatel irá seguir a Lei do Cabo, ainda em vigor, e cumprir o que dizem os contratos de concessão assinados com as concessionárias de telefonia fixa. Ambos os documentos, em princípio, impedem que as concessionárias do STFC detenham licenças de cabo. Mas o fato de não haver mais limites ao total de outorgas por cidade, na prática, abre as portas para as teles.

Dos 1,1 mil pedidos de TV a cabo, 884 são anteriores a 2008

Segundo observadores que analisaram os pedidos de outorgas de TV a cabo existentes na Anatel, é bem provável que as mais de 1,1 mil solicitações que estão registradas na Anatel não rendam, na prática, uma grande demanda pelo serviço no momento em que houver o sinal verde. Como já havia informado este noticiário, a maior parte das solicitações é de pequenos grupos e para cidades de pouco interesse. O que relatam as fontes ouvidas por esse noticiário, que tiveram acesso às datas de cada um dos pedidos (esse dado não é tornado público pela Anatel) é que estas solicitações são, na maior parte, antigas.

Um exemplo: há 884 pedidos de concessões de Tv a cabo anteriores a dezembro de 2008. Desses há cerca de 400 feitos por apenas cinco empresas e/ou pessoas físicas, e todos eles deram entrada antes do final de 2006. Outros especialistas ouvidos por este noticiário, contudo, acreditam que exista uma demanda que só vai se revelar quando a Anatel der o sinal verde para receber a documentação de habilitação. É nesse momento, acredita-se, que empresas como a Oi vão se manifestar. Até lá, a expectativa é para saber como ficará o novo planejamento de TV por assinatura, sendo relatado pela conselheira Emília Ribeiro e se o formato final do planejamento será aprovado pelo restante do conselho, já que os demais conselheiros já sinalizaram que não querem limites ao total de outorgas por cidade.

ABTA prevê limitação de até cinco operadoras de TV a cabo por municípios

O presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), Alexandre Annenberg, disse nessa terça-feira (13) que não é contra a entrada das teles no mercado de TV a cabo, mas defende que a Anatel encontre formas de resguardar o espaço para os pequenos operadores especialmente os locais. Ele discorda da adoção de um preço único para as outorgas, de R$ 9 mil, como já anunciou a agência, adiantando que o valor deve permanecer como está, ou seja, proporcional ao tamanho do município que será atendido.

“Se a Anatel pretende com o novo valor aumentar os competidores a um número ilimitado, criará outro problema, que vem das restrições naturais”, disse. Annenberg explica que os postes das redes elétricas só podem transportar de quatro a cinco redes. “Nesse caso, a decisão sobre as empresas que poderiam passar seus cabos pelos postes das companhias energéticas ficaria com quem? Com a própria empresa de energia? Com a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]?, questiona.

Para o presidente da ABTA, essa limitação natural poderá criar um leilão pelas distribuidoras de energia, que escolheriam as empresas pelo preço maior a ser pago pelo uso dos postes. E isso, sustenta, impediria o acesso das pequenas operadoras, principalmente as locais, que têm maiores condições de criar empregos diretos na cidade a ser atendida, além de facilitar a divulgação de serviços na área da saúde, educação, e-gov, do que as grandes operadoras.

Sem resposta

Essas e outras questões foram encaminhadas por carta à Anatel pela ABTA, depois que a agência decidiu suspender a limitação do número de prestadoras de TV a cabo, com objetivo de eliminar barreiras de entrada a empresas no mercado de televisão por assinatura no Brasil. Até agora nenhuma resposta foi dada pela agência.

A decisão, em caráter cautelar, foi tomada em reunião do Conselho Diretor da agência, e altera regulamentação do Ministério das Comunicações de 1997, antes da instalação da Anatel. Ao mesmo tempo, a Anatel determinou a retomada do processamento de mais de 1.000 pedidos de outorga de TV a cabo em tramitação na autarquia.

Annenberg pede ainda que a Anatel esclareça como será feito o planejamento da TV por assinatura, matéria que está sendo relatada pela conselheira Emília Ribeiro.